No último ano, estive com três pacientes que estavam sofrendo com problemas semelhantes. Vamos falar de conexões:
Flávio & Geane
O primeiro era um jovem chamado Flávio*. Ele e sua namorada, Geane*, moravam juntos há dois anos em uma casa emprestada por tios de Flávio. Desde que se juntaram, ao fim da universidade, os dois tinham cada vez menos contato com os amigos de antes. Era desejo de ambos passar mais tempo um com o outro e aproveitar essa nova fase “pós-graduação”.
Eles se davam muito bem, mas não tinham tantos interesses em comum assim, por isso passavam a maior parte do tempo juntos em casa, assistindo séries e dividindo as tarefas domésticas. Flávio, sempre foi de muitos amigos, enquanto Geane estava mais feliz com atividades como ler e cozinhar. Finalmente, depois de certo tempo Flávio percebeu que se sentia sufocado e queria terminar o relacionamento. Contudo temia que sua namorada não fosse capaz de lidar com uma separação. Pois na sua opinião ela tinha uma “saúde mental frágil”.
Ele tinha razão, Geane sofreu. Não apenas ela perdeu a pessoa que amava, mas teve que procurar outro lugar para morar tendo que adequar a suas finanças. Ao contrário de Flávio, que tinha amigos próximos no escritório em que trabalhava. Ela não tinha nenhum, pois trabalhava em casa como artesã.
Pamela
O segundo caso, era de Pamela*, ela sentou-se na minha sala de terapia, perturbada porque seu namorado de três anos repentinamente e inexplicavelmente a largou. Enquanto conversávamos, descobriu que ela também havia parado de entrar em contato com suas amigas de longa data quando o relacionamento começou, priorizando passar o tempo com seu novo parceiro. Agora ela se sentia incapaz de entrar em contato com os amigos que ela e seu parceiro compartilhavam, tudo isso porque esses amigos ainda estavam na vida do agora ex-namorado. Essa conexão com eles era muito dolorosa pois a fazia reviver o relacionamento recém acabado.
Gisele
Então para concluir essa sequência de atendimentos, entrou em meu consultório Gisele*. Ainda profundamente arrasada, um ano depois que seu marido de 30 anos morreu de um câncer. Eles sempre foram extremamente próximos, administravam um negócio juntos desde o início do casamento. “Éramos um só”, muitas vezes ela falou em meio de lágrimas. Eles moravam em Brasília, mas ela era de Belo Horizonte. Durante as sessões acabou por perceber que não tinha conexões significativas em nenhuma das duas cidades.
Conexões Sociais
Todas essas situações desesperadamente tristes reforçaram duas verdades para mim:
- a importância da necessidade das várias conexões afetivas, e
- como não é nem mental nem fisicamente saudável esperar atender a essa necessidade humana em apenas um lugar, com apenas uma pessoa.
Reforçando, a necessidade de conexões sociais significativas e a dor que sentimos sem elas são características que definem o ser humano. A solidão cria um círculo vicioso onde os pensamentos, sensações e comportamentos negativos se repetem intensamente. O isolamento social é um grande risco à saúde mental. Tão prejudicial à nossa saúde quanto a obesidade, alcoolismo ou pressão alta.
A solução
Os horizontes podem encolher sem que percebamos. Afinal, estamos preparados para fazer e manter conexões sociais, no entanto, cada vez mais e com o apoio da internet, estamos nos encaminhando para longe de todas as coisas verdadeiramente sociais.
Embora seja verdade que o sentimento de conexão é algo muito subjetivo e muitas vezes mais relevante do que o número real de amigos, há muitos benefícios em ter uma variedade de pessoas em nossas vidas. Precisamos de conexão emocional e comunitária para sermos mentalmente saudáveis, isto é da natureza humana.
Portanto, para pessoas como Flávio e Geane, Pamela e Gisele, você e eu, é fundamental conectar-se novamente à comunidade, seja por meio de um voluntariado, um curso ou o ingresso em um grupo social. Nunca é prudente abandonar todas as nossas conexões sociais por amor, porque o vazio resultante de uma desilusão pode ser catastrófico.
*Todos os nomes foram alterados para fins de proteção.